CrossFit é conhecido como prática esportiva de alta intensidade que alterna diferentes modalidades de exercícios no WOD (Workout of the day). Essa alta intensidade física, aliada à imagem mais comum que encontramos ao conhecer pela primeira vez uma academia de CrossFit – gente pendurada em cordas ou segurando enormes pesos suspensos em barras – provocam naturalmente as dúvidas: é seguro praticar CrossFit? Quais são os riscos de lesão? Em sua primeira contribuição à Feroz CrossFit, a Dra. Michelle Becker, fisioterapeuta traumato-ortopédica e desportiva, responde a estes que são dois dos questionamentos mais comuns efetuados por aqueles que pretendem iniciar na prática do CrossFit. A autora compara os riscos de lesão com outros esportes altamente disseminados, como a corrida e o futebol, e oferece conselhos indispensáveis para prática segura de qualquer atividade física.

CrossFit: A Visão do Fisioterapeuta Desportivo

Dra. Michelle P. Becker

Uma das perguntas que sempre me fazem sobre o CrossFit é sobre o risco de lesões. Junto com estas dúvidas, uma dose significativa de preconceito.

No Brasil, uma pequena parcela da população sabe realmente o que é o CrossFit e como a metodologia do sistema/treinamento funciona. Por isso, é preciso entender que o CrossFit é, sim, um esporte, tal como futebol, vôlei, dentre outros.

O CrossFit além de ser uma metodologia de treinamento, também pode ser um estilo de vida, como muitos preferem definir. E como tal, são necessários todos os procedimentos de aprendizagem de técnicas, rotinas de adaptação às instruções metódicas e específicas dos coachs (treinadores que precisam ser licenciados ao CrossFit) e o respeito ao corpo e seus limites. Tem competições próprias, com atletas profissionais e amadores em todo o mundo.

O CrossFitmostra, cada vez mais, sua superioridade – em relação a outras práticas esportivas – no condicionamento físico pleno de atletas e de pessoas ditas “comuns”. Os treinos são executados dentro de uma Box (como é chamada uma área de treinamento), cuja qual não lembra em nada uma academia comum.

E porque essa “novidade”, que já é tão difundida nos EUA, tem feito também tanto sucesso e se espalhado em todo o Brasil? Por que essa marca já virou uma das maiores do mundo fitness e tem atraído seguidores por todo o mundo? Será que é apenas mais uma “modinha” do segmento? A visão técnica da Fisioterapia Desportiva esclarece essas dúvidas de forma positiva: o CrossFit é uma atividade que tem por objetivo o padrão biomecânico perfeito dos movimentos, pelo aumento das eficiências articular e muscular que otimizam o padrão básico da prevenção de lesões: a mobilidade (eficiência articular) e a estabilidade (muscular), gerando assim um equilíbrio do sistema corporal como um todo.

O que mais chama a atenção é a rapidez com que o CrossFit seduz seus praticantes, principalmente pela variação constante dos treinamentos físicos e o incentivo diário à superação de limites e dos desafios individuais. E o que mais agrada é que o CrossFit é uma atividade eminentemente inclusiva.

Podemos ver, numa mesma turma, indivíduos bem condicionados, atletas e iniciantes, que fazem da atividade física uma válvula de escape para o dia a dia. Isso tudo se deve à capacidade e possibilidade de adaptação dos exercícios solicitados pelo WOD (Workout of the day).

É comum ver pessoas se assustarem ao assistirem atletas carregando altos pesos em barras, subindo em cordas ou pulando em caixas altas. É preciso entender que os praticantes do CrossFit são treinados arduamente para cada um desses movimento. Aprender a colocar um bastão de PVC acima da cabeça com técnica e segurança, pendurar-se em barras com auxílio de faixas elásticas ou simplesmente subir em degraus com um correto alinhamento dos joelhos são alguns passos de um treino ideal dentro da Box.

Quando me perguntam sobre os riscos de lesão na prática do CrossFit, também costumo lembrar que todo e qualquer esporte que envolve técnica apurada, velocidade e variação de movimentos com o corpo pode acarretar lesões. Há um consenso dentro da literatura traumato-ortopédica que o esporte que mais acarreta lesões é o futebol, pois como citado acima, existe uma grande demanda de variação de movimento, velocidade e a técnica em si. E se compararmos o CrossFit à corrida? Sabe o que é fascite plantar, canelite ou tendinite patelar? São lesões do cotidiano dos corredores que, teoricamente, praticam um esporte sem muita “ciência” para realizá-lo (embora saibamos que não basta calçar o tênis e sair correndo).

É de extrema importância a avaliação médica antes de iniciar qualquer atividade esportiva. Procurar um médico especialista em medicina esportiva é um fator indispensável para que seja diagnosticado qualquer problema, seja de cunho articular, muscular ou dos órgãos internos. Normalmente as lesões que “aparecem” nos praticantes de CrossFit são disfunções já presentes no sistema ósteomuscular (sistema ósseo + músculos), que com a prática dos treinos podem vir a se manifestar com dor, ou até mesmo com a diminuição da amplitude de movimento. Quando existe uma avaliação detalhada do corpo como um todo, usualmente descobre que o indivíduo já apresenta uma dor, podendo ser de cunho leve ou até mesmo passageira.

Para uma melhor prevenção de lesão é necessário a Avaliação Cinesiológica Funcional realizado por um fisioterapeuta. Pois dentro desta avaliação há o estudo do movimento do sistema ósteomuscular como um todo e a identificação de onde este sistema está deficitário ou que pode vir a acarretar um desequilíbrio da biomecânica gerando assim uma lesão.

Saliento que paralelamente ao sucesso do CrossFit, é necessário acompanhar a prática do esporte com estudos e intervenções que permitam e mantenham a segurança e eficácia ao crossfitter (praticante do CrossFit), que cada vez mais se apaixona e usufrui de todos os resultados positivos do melhor e mais completo esporte já criado.

Dra. Michelle P. Becker – Fisioterapeuta

Crefito 8 / 38.125F

Pós-graduada em Fisioterapia Traumato-Ortopédica e Desportiva

Formação em Avaliação Cinesiológica,  Funcional,  Ergonomia e Perícia Fisioterapêutica